Brunoro lamenta desmanche precoce de 1996: “Teríamos conquistado mais” - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon e Helder Júnior
São Paulo, SP
06/01/2016 09:00:00
 

José Carlos Brunoro foi o homem forte da bem-sucedida parceria estabelecida entre Palmeiras e Parmalat durante a década de 1990. Um dos responsáveis pela montagem do elenco campeão paulista em 1996, o executivo lamenta o fim precoce do time na terceira da série de reportagens publicada pela Gazeta Esportiva na semana em que o título completa 20 anos.

Já sem o atacante Muller, que resolveu voltar ao São Paulo, o Palmeiras perdeu do Cruzeiro na final da Copa do Brasil. Durante o segundo semestre, após as saídas de Rivaldo e Amaral, o time dirigido por Vanderlei Luxemburgo acabou eliminado pelo Grêmio nas quartas de final do Campeonato Brasileiro, ficando fora da Libertadores 1997.

“Se todo o mundo permanece, sem dúvida alguma que teria conquistado mais. Era um time que jogava por música. Se não há uma quebra de contratações, de venda de jogadores, sem dúvida alguma. Perder três peças assim é muito complicado, né? Então, acho que a gente teria feito um campeonato impecável”, apostou Brunoro.

Com o esquadrão desmontado logo na metade da temporada de 1996, ficou aos torcedores a interrogação sobre o que o time seria capaz de fazer se fosse mantido. Vinte anos depois, o antigo executivo da Parmalat sustenta que o desmanche era inevitável na época.

“São as coisas que você às vezes não consegue impedir nem substituir à altura. Como é que você vai substituir à altura um Rivaldo, um Muller? Você não concorda?”, perguntou Brunoro, que retornou ao clube alviverde para uma passagem sem brilho em 2014.

O grande sonho da parceria entre Palmeiras e Parmalat era conquistar a inédita Libertadores e disputar o título mundial, feito alcançado apenas em 1999. O revés diante do Cruzeiro na final da Copa do Brasil 1996, portanto, adiou os planos em alguns anos.

“Essa derrota foi frustrante. Na realidade, estava em uma data e mudaram. Tanto é que o Muller não jogou e foi para o São Paulo”, lembrou Brunoro. “Tudo isso acabou tirando um pouquinho o embalo do negócio. Mas tudo bem, a gente sempre estava ganhando, disputando, sem problemas”, minimizou.

Sem Rivaldo, negociado com o La Coruña, o Palmeiras caiu nas quartas do Brasileiro 1996 (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Sem Rivaldo, negociado com o La Coruña, o Palmeiras caiu nas quartas do Brasileiro 1996 (Foto: Acervo/Gazeta Press)

De acordo com o executivo, a principal razão do sucesso no Paulista 1996 foi iniciar o planejamento da equipe na temporada anterior. A oito rodadas do final do Campeonato Brasileiro 1995, Vanderlei Luxemburgo retornou ao Palmeiras para suceder Carlos Alberto Silva após passagens decepcionantes por Flamengo e Paraná.

O meia Djalminha e o atacante Luizão, por exemplo, foram contratados do Guarani em novembro de 1995. Os dois jogadores, além do lateral esquerdo Júnior, que estava no Vitória, se juntaram a um elenco com nomes já consagrados para formar um dos melhores times da história do Palmeiras.

“O Campeonato Brasileiro ainda estava em andamento, e o Guarani queria vender o Djalminha e o Luizão, porque precisava de dinheiro. Na realidade, o time foi montado em 1995. Esse foi o segredo do negócio. Fizemos uma coisa inédita: trazer atletas que não podiam jogar o Brasileiro e já prepará-los”, disse Brunoro.

Amplamente superior a seus rivais no Campeonato Paulista, o Palmeiras foi tumultuado apenas fora de campo. Acusado de assediar sexualmente a manicure Cláudia Cavalcante em um hotel antes do jogo contra o Rio Branco, Vanderlei Luxemburgo entrou em contato com Brunoro.

“Ele falou que tinha ocorrido esse fato. Eu disse: ‘Ah, não dá declaração nenhuma, nada. A gente vai mandar um advogado’. E foi o que aconteceu. Teve uma repercussão ruim para ele, mas, para o time em si, não mudou nada”, disse o executivo sobre o caso que acabou arquivado e inspirou o filme pornográfico “Vanderburgo e a Manicure”.

Dentro de campo, porém, o Palmeiras fez barba, cabelo e bigode com uma campanha de 27 vitórias, dois empates e uma derrota. Dos 102 gols marcados pelo clube, Luizão (22), Rivaldo (18), Djalminha (15) e Muller (15) anotaram 70, mais que o Santos, dono do segundo melhor ataque (69) e massacrado por 6 a 0 na Vila Belmiro.

“Eu encontrava muitos amigos meus torcedores de outros clubes que assistiam jogos do Palmeiras para ver espetáculo. Ficou uma marca tão forte, que as pessoas iam ver o Palmeiras, independentemente de time. Isso foi uma coisa sensacional”, sorriu José Carlos Brunoro.



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