Há 20 anos, Palmeiras estreou Marcos e ganhou Paulista com 102 gols - Gazeta Esportiva
Bruno Ceccon
São Paulo, SP
05/30/2016 09:00:21
 

Vinte e sete vitórias, dois empates e uma derrota. Oitenta e três pontos ganhos. Cento e dois gols marcados e 19 sofridos. Há 20 anos, o jovem goleiro Marcos Roberto, então reserva, viu Velloso, Cafu, Sandro, Cléber, Júnior, Amaral, Flávio Conceição, Djalminha, Rivaldo, Muller e Luizão brilharem no Campeonato Paulista 1996, conquistado sob o comando de Vanderlei Luxemburgo.

O regulamento previa a decisão do título em um quadrangular, mas o Palmeiras ganhou os dois turnos e, com 92% de aproveitamento, foi campeão de forma antecipada no Estádio Palestra Itália ao bater o Santos por 2 a 0, em 2 de junho de 1996. Marcos, ainda cabeludo, fez no Campeonato Paulista seus primeiros jogos oficiais. Na semana em que o feito completa 20 anos, a Gazeta Esportiva publica uma série de reportagens.

Após marcar época nas temporadas de 1993 e 1994, o Palmeiras viveu uma entressafra em 1995 e perdeu a final do Campeonato Paulista para o Corinthians. A oito rodadas do final do Brasileiro, após passagens decepcionantes por Flamengo e Paraná Clube, Luxemburgo voltou no lugar de Carlos Alberto Silva. Com a finalidade de voltar a ser campeã, a agremiação já passou a planejar a temporada seguinte.

As principais contratações do Palmeiras, patrocinado pela Parmalat, para 1996 foram o meia Djalminha e o atacante Luizão, ambos do Guarani, além do lateral esquerdo Júnior, que impressionou Luxemburgo pelo Vitória. O trio promissor, integrado a um elenco com jogadores já consagrados, culminou com a formação de um dos melhores times da história do clube.

A Sociedade Esportiva Palmeiras massacrou seus adversários, do modesto Botafogo-SP, goleado por 8 a 0, ao rival Santos, humilhado por 6 a 0 na Vila Belmiro. Dirigido por Luxemburgo, o time conseguia manter o ímpeto no ataque e ainda contava com uma defesa sólida, que passou incólume por 13 partidas e só tomou mais de um gol em duas.

Com uma campanha de 14 vitórias e um empate, o Palmeiras ganhou o primeiro turno e passou a depender de um novo triunfo no segundo para evitar o quadrangular final. Na nona rodada, mesmo em superioridade numérica desde o começo da etapa complementar, o time palestrino acabou vencido por 1 a 0 pelo Guarani no Brinco de Ouro da Princesa, com um gol de Sílvio após passe de Dinei.

O revés em Campinas após 23 jogos de invencibilidade impediu o Palmeiras de ganhar a Taça dos Invictos, premiação oferecida pelo jornal A Gazeta Esportiva ao time com a maior série de partidas sem derrota no Campeonato Paulista. Para desbancar o Corinthians, detentor do prêmio desde 1990, a equipe alviverde precisava alcançar a marca de 25 jogos.

“Depois de uma derrota, surge um campeão. Esse resultado vai fortalecer o grupo, que lutou muito e acabou perdendo para um adversário que teve méritos. Faz parte do futebol. No momento das vitórias, sobram elogios. Com a derrota, os questionamentos começam a surgir. Chegou a hora de mostrar nossa grandeza”, disse Vanderlei Luxemburgo na edição de 11 de maio de 1996 de A Gazeta Esportiva.

Com o tropeço do Palmeiras, os rivais Santos, São Paulo e Portuguesa ganharam fôlego na tentativa de conquistar o segundo turno. Nas partidas seguintes, porém, o time alviverde se recuperou ao bater Araçatuba e Rio Branco. Com gols do meia Rivaldo e do zagueiro Cláudio, a equipe bateu o adversário de Americana por 2 a 1, mas um episódio controverso tumultuou o ambiente.

Hospedado no quarto 206 do hotel Vila Rica, Luxemburgo requisitou a presença de uma manicure. De acordo com Cláudia Cavalcante, após prestar o serviço, ela foi assediada sexualmente pelo técnico, que desmentiu. O caso, registrado na 2º Delegacia de Polícia de Campinas, inspirou o filme pornográfico “Vanderburgo e a Manicure” e acabou arquivado em 1998.

Cabeludo goleiro Marcos e italiano Marco Osio ganharam faixas contra o Xv de Jaú (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Jovem goleiro Marcos e cabeludo italiano Marco Osio ganharam faixas de campeões (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Na mesma edição em que noticiou a polêmica envolvendo Luxemburgo, o jornal A Gazeta Esportiva falou sobre o substituto do suspenso Velloso contra o Botafogo-SP: “Marcos Roberto ganha chance de mostrar suas qualidades”. Com apenas 22 anos, o rapaz estava ansioso. “É difícil ser reserva do Velloso, um goleiro de Seleção. Mas, se estou aqui, é porque tenho condição. Sei que preciso mostrar meu valor”, afirmou.

Marcos disputou um amistoso contra o Guaratinguetá em 1992 e no dia 30 de março de 1996 participou da primeira partida oficial ao substituir Velloso na goleada sobre o XV de Jaú, pelo Campeonato Paulista. Diante do Botafogo-SP, em seu debute como titular, ele viu a equipe ganhar por 4 a 0 e defendeu um pênalti – do jornal A Gazeta Esportiva, ganhou a nota 7 pela atuação.

“O time pode fazer jogadas de efeito, desde que seja em busca do gol. É o futebol bonito sem deixar a eficiência do lado. Está bem como eu gosto”, disse Luxemburgo após a goleada, contrariado apenas ao ouvir perguntas sobre o caso da manicure. “Está tudo com meu advogado. Meu advogado, que não tem nada a ver com o Palmeiras ou a Parmalat”, afirmou, carrancudo.

Já com o titular Velloso de volta à meta, o Palmeiras precisava do empate contra o Santos para ser campeão na penúltima rodada do segundo turno, mas ganhou por 2 a 0. Há 20 anos, Luizão marcou o 100º gol do time no Campeonato Paulista e o zagueiro Cléber fechou o placar. No Estádio Palestra Itália, lotado desde as 17 horas, houve farta distribuição de bebidas nas tribunas a partir do intervalo.

“O time de Vanderlei Luxemburgo, disparado o melhor do Brasil, venceu os dois turnos com folga e estragou os planos de quem sonhava com o quadrangular decisivo. Com a conquista, o Palmeiras se iguala ao Corinthians com 21 títulos e parte agora para levar a Copa do Brasil (o time estava na semifinal)”, noticiou o jornal A Gazeta Esportiva na edição de 3 junho de 1996.

Luizão só deixou namorada de lado para festejar com companheiro Cafu (Foto: Acervo/Gazeta Press)
Artilheiro Luizão só deixou namorada de lado para festejar com companheiro Cafu (Foto: Acervo/Gazeta Press)

Luxemburgo, como de praxe, deixou o gramado minutos antes do final. Após a festa dos atletas, ele falou sobre sua filosofia. “Minha intenção desde que retornei ao clube era resgatar o futebol espetáculo e foi justamente isso que fui introduzindo na mentalidade de cada jogador. É lógico que sou o líder do grupo, mas sempre digo que 70% do título pertencem aos jogadores. O restante é dividido entre a comissão técnica”, afirmou.

Com exceção do zagueiro Sandro e de Rivaldo, todos os jogadores comemoraram a conquista na boate Limelight. Ao som de canções de axé e pagode, intercaladas com o hino do Palmeiras, um telão exibia os melhores momentos do jogo contra o Santos. Amaral dançou quase a noite inteira, e Luizão, orgulhoso, apresentou aos companheiros a namorada Fabíola de Oliveira, segundo lugar no concurso Miss São Paulo 1996.

Após os festejos, o Palmeiras eliminou o Grêmio na semifinal da Copa do Brasil e na última rodada do Estadual recebeu as faixas no triunfo por 1 a 0 sobre o XV de Jaú, encerrando o segundo turno com 13 vitórias, um empate e uma derrota. Juntos, Luizão (22), Rivaldo (18), Djalminha (15) e Muller (15) fizeram 70 gols, mais do que o Santos, dono do segundo melhor ataque (69) e do artilheiro Giovanni (24).

Um dos protagonistas do título, Muller estava emprestado ao Palmeiras pelo japonês Kashiwa Reysol até 9 de junho e, portanto, não enfrentou o Cruzeiro nas finais da Copa do Brasil – após uma arrastada negociação, o atacante retornou ao São Paulo. O time alviverde voltou de Belo Horizonte com o empate por 1 a 1, mas perdeu por 2 a 1 no Palestra Itália após falhas de Amaral e Velloso.

Em 21 de junho de 1996, uma semana após o revés na Copa do Brasil, o jornal A Gazeta Esportiva dedicou sua manchete ao Palmeiras: “A máquina está parando”. Com a saída de atletas como Muller, Rivaldo e Amaral, o clube acabou eliminado pelo Grêmio nas quartas de final do Campeonato Brasileiro e nem sequer disputou a edição de 1997 da Libertadores.

Com o esquadrão de 1996 desmontado na metade do ano, ficou aos torcedores a interrogação sobre o que o time seria capaz de fazer se fosse mantido. Em 1998, com a equipe reformulada e dirigida por Luiz Felipe Scolari, Velloso pôde se vingar do Cruzeiro na final da Copa do Brasil. Assim, o Palmeiras partiu rumo à sonhada Libertadores, conquistada no ano seguinte com Marcos Roberto na condição de herói.



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