Tite jura que não tem pretensão de ultrapassar Brandão na história - Gazeta Esportiva
Helder Júnior*
São Paulo (SP)
12/01/2015 14:10:14
 

“Qual é a diferença de jogos entre a gente? Ele tem uns 700, será? Bah! Não! Não dá para mim! Eu tenho uns 200”, disse Tite, em entrevista concedida à Gazeta Esportiva em dezembro de 2013. Ele se despedia do Corinthians após um semestre muito ruim e não via, naquele momento, a possibilidade de desafiar o número de partidas do recordista Oswaldo Brandão no clube.

A distância agora é de menos de cem jornadas e deixará de existir se o contrato do treinador for cumprido, até o fim de 2017. Independentemente dessa marca, há quem defenda que o gaúcho de Caxias de Sul já tenha superado o de Taquara na história da equipe preta e branca. A conquista do Campeonato Brasileiro com uma campanha arrasadora deu mais um argumento aos partidários dessa visão.

Tite jura não se importar.

Ser visto como o maior técnico do Corinthians “orgulha, mas assusta” Tite (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Ser visto como o maior técnico do Corinthians “orgulha, mas assusta” Tite (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)

“Não tenho a pretensão de ser o maior, juro. Palavra de honra”, disse o técnico, que prefere transparecer sua vaidade exaltando a própria conduta moral com uma frequência impressionante. “Tenho a pretensão de ser leal, competente, de ser um cara simples, de valorizar onde nasci. Ser eu, do meu jeito. Se as pessoas entenderem que mereço carinho…”

Ele tem merecido bastante carinho. Ampliando algo que já se via em escala menor nos históricos triunfos de 2012, o comandante é de longe a figura mais celebrada no hexacampeonato nacional do Corinthians. Entoado com muita força, o brado “olê, olê, olê, olê, Titê, Titê” reforça o coro que põe Adenor Leonardo Bacchi no topo entre os 108 treinadores alvinegros.

“Não penso nisso. Até porque, se eu pensar nisso, vai me assustar, vai me assustar. Não tenho a dimensão. A dimensão que tenho é a de ser digno, no meu posto, enquanto pessoa. Sabem da minha conduta”, afirmou, incansável na louvação de suas virtudes como homem. “Agora, essa mensuração aí… Orgulha, mas assusta.”

Técnico vê 2012 mais importante do que 1977

Tite não compreende 1977, mas sabe que, "para jogar no Corinthians, é preciso ter um pouco de Zé Maria" (foto: acervo/Gazeta Press)
Tite não compreende bem 1977, mas sabe que, “para jogar no Corinthians, é preciso ter um pouco de Zé Maria” (foto: acervo/Gazeta Press)

Ainda que jure não se importar com as comparações, Tite coloca sua maior conquista acima da maior de Oswaldo Brandão no Corinthians. Há dois anos – antes de ampliar sua importância com mais um triunfo no Campeonato Brasileiro –, ele não hesitou em apontar o título da Copa Libertadores de 2012 como o principal na história de mais de cem anos do clube do Parque São Jorge.

“Em termos de sede de título, o paralelo é válido”, disse, após um longo suspiro, questionado sobre o memorável Campeonato Paulista de 1977. “Mas a dimensão… Sem falsa modéstia, a Libertadores é maior. Talvez o cunho de tanto tempo sem esse título… E foi um título de Libertadores! Ainda me surpreendo com as pessoas emocionadas que chegam até mim.”

Brandão já não está vivo para ouvir “obrigado”, mas é o que Basílio escuta diariamente. O autor do gol do título que encerrou um jejum de 23 anos do Corinthians conhece bem a gratidão dos torcedores por um momento inigualável. Ainda hoje, há crianças sendo batizadas com o nome do Pé de Anjo – que foi informado previamente por Brandão: seria o herói contra a Ponte Preta.

“Sei que o campeonato de 1977 foi um marco. Eu era garoto e acompanhei aquela campanha. Sabia da qualidade da Ponte Preta. Conheço bem a história porque aquele título transcendeu o estado de São Paulo. No Rio Grande do Sul, eu pensava: ‘O Corinthians está há tanto tempo sem conquistas e ficou próximo disso agora’. Aquilo foi um bum. Com um técnico gaúcho, então…”, disse Tite.

Até hoje sem a exata noção do que representou o triunfo de 38 anos atrás, ele julga ter começado a entender ali o clube em cuja história entraria profundamente. “Eu me lembro de Basílio, Ruço, Tobias, Super Zé. Guardo ainda uma imagem da representação da raça dele ainda. Para jogar no Corinthians, é preciso ter um pouco de Zé Maria.”

*Colaborou Helder Júnior



×