“Esquentado”, Zeca tenta não cair em provocações e vê Peixe preparado - Gazeta Esportiva
Do correspondente Tiago Salazar
Santos - SP
04/23/2016 10:30:31
 

Pouco mais de quatro meses depois da final da Copa do Brasil, Santos e Palmeiras entrarão de novo em campo para um confronto decisivo. Neste domingo, às 16 horas (horário de Brasília), os eternos rivais decidem, na Vila Belmiro, em duelo único – para aumentar o drama da situação – quem vai à final do Campeonato Paulista e quem dá adeus à competição e, consequentemente, ao semestre, já que ambos estão fora da Copa Libertadores da América.

O clima é de tensão, rivalidade, ansiedade e expectativa. E engana-se que apenas os fanáticos torcedores estejam sob essa condição. As provocações e até uma certa animosidade que se criou entre os dois elencos têm tornado o clássico também muito aguardado pelos atletas.

Zeca sabe muito bem quão duro foi o revés para a equipe alviverde, em dezembro último, nos pênaltis, que podem se repetir neste fim de semana em caso de empate no tempo normal. “Calejamos pelo ano passado. Sofremos com a derrota na Copa do Brasil”, admite o lateral esquerdo do Peixe em entrevista exclusiva à Gazeta Esportiva.

José Carlos Cracco Neto, apelidado de Zeca ainda nas categorias de base do Santos, hoje é um dos protagonistas da equipe de Dorival Júnior. Titular absoluto, o jogador atuou em 15 dos 16 jogos no Estadual até aqui e nos últimos dias recusou uma proposta do Atlético de Madrid, da Espanha. E se você acredita que ele está preocupado com o próximo adversário… “Para ser sincero, eu não procuro ver nada do Palmeiras”, revela, sem deixar de lembrar dos encontros de 2015. “Acho que o Palmeiras de antigamente era um pouco desorganizado”.

Paranaense de Paranavaí, o jogador, que completa 22 anos em maio, diz que tem acompanhado de longe todas as provocações e brincadeiras às vésperas do clássico. O motivo? Seu temperamento forte. “Se me provocarem pela imprensa eu procuro não ver. Acho que pode ser tática para me tirar do sério”, explica, antes de confessar ser “meio esquentado” do alto de seu 1m70 e sustentados pelos seus 68 kg.

Personalidade e transparência nunca faltaram para a cria da base alvinegra. E isso fica claro quando Zeca se depara com uma indagação sobre uma eventual disputa por pênaltis e a necessidade de enfrentar Fernando Prass. “Se for para os pênaltis, pode ver lá que eu vou ser o primeiro a dar o nome para bater”, avisa, apesar da confiança na vitória durante os 90 minutos.
“Nós não jogávamos muito juntos. A linha jogava muito lá atrás, distante do meia ou do atacante. Esse ano está mais junto, a linha está saindo bem. Nossa linha de trás está jogando praticamente no meio de campo quando a gente está no ataque”, compara.

Zeca não nega que gosta do fato de jogar a segunda semifinal do Paulista. Assim, entrará em campo ciente de quem poderá enfrentar na final. E como o regulamento muda na decisão, abrindo dois jogos para definir o campeão, o jogador lamenta a possibilidade de ter de buscar a taça contra o Corinthians, em Itaquera.
“Faz diferença jogar o último jogo lá e o primeiro jogo aqui. É totalmente diferente decidir em casa. Contra o Palmeiras, na Copa do Brasil, foi assim”, comenta, ressaltando uma dificuldade maior em atuar no estádio de Itaquera, em comparação com Morumbi e Palestra Itália. “A maior pressão foi dentro do estádio do Corinthians”, crava.

Prestes a completar seu 70º jogo com a camisa do Peixe, por quem marcou apenas um gol até agora, o atleta ainda fala sobre a preparação confinada no CT Rei Pelé para o clássico, o mistério na escalação palmeirense e sua relação com a torcida santista.

Zeca estava de saída do Peixe, quando Dorival chegou e o transformou em titular (Foto: Ivan Storti)
Zeca estava de saída do Peixe, quando Dorival chegou e o transformou em titular (Foto: Ivan Storti)

Você foi pego de surpresa com a decisão do Dorival de ficar no CT treinando, enquanto os reservas viajaram para a estreia na Copa do Brasil? Como foi essa semana?
Zeca – Sim. Se falar de jogar eu quero jogar todo jogo, mas, se tratando de semifinal de Paulistão, contra o Palmeiras, é algo muito grande. Então, foi uma semana muito boa, bem trabalhada. Muitas coisas que a gente fez de errado, consertamos. Trabalhamos bem, estamos focados e bem preparados para essa semifinal.

Você tem assistido aos jogos do Palmeiras em 2016?
Zeca – Para ser sincero, eu não procuro ver nada do Palmeiras. Eu vejo do Santos. Todos os trabalhos que o professor passa. Procuro me dedicar aqui e não fico vendo nada do Palmeiras. Meu foco é no Santos. Sim, o adversário é o Palmeiras, mas isso é passado um dia antes do jogo. Então, quanto a isso, eu estou tranquilo para chegar e fazer um grande futebol.

Eu ia te perguntar sobre as mudanças no Palmeiras em relação ao time das finais da Copa do Brasil…
Zeca – Ver eu não vi, mas comentaram comigo já. Acho que o Palmeiras de antigamente era um pouco desorganizado. Não tinha muita movimentação, não era um time que jogava junto, agrupado. Esse ano está sendo diferente, sim. O Palmeiras está jogando mais junto, tocando mais a bola. Não estão dando muitos balões, como eles faziam contra a gente, para essa dividida do centroavante. Mais qualidade. É um time que a gente tem que ter muita atenção.

E no Santos, quais mudanças você reparou nesses pouco mais de quatro meses?
Zeca – A garra, a determinação e a vontade de ganhar são as mesmas. Muita coisa mudou dentro do campo, taticamente. Nosso time foi bem no ano passado. Conseguiu sair da zona de rebaixamento e conseguiu chegar até no G4 e ir para a final da Copa do Brasil. Mas, de um modo diferente. Nós não jogávamos muito juntos. A linha jogava muito lá atrás, distante do meia ou do atacante. Esse ano está mais junto, a linha está saindo bem. Nossa linha de trás está jogando praticamente no meio de campo quando a gente está no ataque. Está tendo uma aproximação boa. Quando a gente perde a bola, já tem gente recuperando. A gente corre menos. A gente corria um pouco errado. Ano passado a gente ganhava o jogo de 3 a 0 e a posse de bola era igual a do adversário. Esse ano está sendo diferente. A gente ganha, mas prioriza mais a bola e termina o jogo mais tranquilo.

Sobre as provocações entre os jogadores, você é um cara sempre muito alheio a isso tudo. É verdadeira essa sua fama de ‘esquentado’? O pessoal até tira sarro e diz que você não sabe brincar.
Zeca – É, sim. Eu sou um cara mais na minha. Eu não procuro provocar ninguém. Se me provocarem pela imprensa eu procuro não ver. Acho que pode ser tática para me tirar do sério. Mas, a maioria das coisas que eu vejo dentro do campo…. Sou meio esquentado mesmo. Vou mais ou menos para cima, mas agora conversei bastante com o Lucas (Silvestre), porque nos últimos dois jogos, antes do São Bento, eu estava meio esquentado, meio nervoso, por conta de algumas coisas que aconteceram dentro do campo. Até tomei cartão bobo. Mas já estou mais tranquilo e mais focado para essa semifinal.

E como foi na Seleção olímpica? O Thiago Maia revelou que o Gabriel Jesus e o Matheus Sales ficaram brincando com vocês, chamando vocês de fregueses, mas que você não dava pano para manga.
Zeca – Eu brinco, mas nessas brincadeiras que ele fez eu nem fico perto. Sei que lá não tem nada a ver com Palmeiras e Santos. Lá é Seleção. São dois grandes jogadores, dois amigos também. Conversei com eles, sim. Mas, nessas brincadeiras eu nem estava perto. Nem participei. Mas, espero brincar com eles depois, em um dia, quando encontrar com eles.

O auxiliar Lucas Silvestre tem conversado com Zeca para deixá-lo mais calmo em campo (Foto: Ivan Storti)
O auxiliar Lucas Silvestre tem conversado com Zeca para deixá-lo mais calmo em campo (Foto: Ivan Storti)

E quando você vê o Lucas Lima, seu companheiro, provocando os palmeirenses, qual é a sua reação?
Zeca – Eu não sei se é diretamente para um ou dois jogadores diretamente do Palmeiras, mas, só sei que nem twitter eu tenho. Mas, acompanho jornal. Então, acabo vendo. Mas parte provocação deles também. Eu vi uma entrevista do Gabriel Jesus e uma do Dudu. E eu acho que o Santos tem uma grandeza enorme. Respeito a gente tem. A gente passa respeito para eles. Eu, particularmente, nunca falei nada do Palmeiras. Mas, dentro de campo é que se resolve. Se tiver que falar alguma coisa, fala dentro do campo. E nosso time está focado para não entrar em provocações do Palmeiras.

Allione e Dudu estão fora do clássico, segundo o Cuca. Isso te deixa mais tranquilo, principalmente porque o Dudu costuma cair pelo seu lado?
Zeca – Não sei se o Dudu não vai jogar ou vai jogar. Não sei se é tática ou porque que é. Não sei se ele vai jogar, mas estamos preparados. Calejamos pelo ano passado. Sofremos com a derrota na Copa do Brasil, esse ano fizemos uma boa pré-temporada. Então, não tem nada que possa surpreender a gente. A gente vai jogar o nosso futebol.

Existe algum receio em bater pênalti diante de um especialista, como é o Fernando Prass? E você pretende bater, caso a partida termine empatada?
Zeca – Não tiro o mérito do Fernando Prass. É um grande goleiro. Mas nosso time está treinando bastante. Acabam os treinos e a gente fica batendo pênalti. Esperamos não levar para os pênaltis, mas, caso aconteça, estamos preparados para qualquer situação. E se for para os pênaltis, pode ver lá que eu vou ser o primeiro a dar o nome para bater. O ano passado eu tinha falado, mas todo mundo que ia já tinha colocado os nomes. Esse ano, antes de começar e se tiver que ser eu vou entrar para bater, confiante.

Zeca recusou uma proposta para jogar no Atlético de Madrid, da Espanha, recentemente (Foto: Ricardo Saibun)
Zeca recusou uma proposta para jogar no Atlético de Madrid, da Espanha, recentemente (Foto: Ricardo Saibun)

Neste domingo teremos o primeiro clássico com torcida única. Qual sua opinião sobre o tema e como ficou sua relação com os torcedores depois daquela bronca que você deu nos santistas, após marcar um gol na virada sobre a Ferroviária?
Zeca – Primeiramente, acho que a torcida única tem que ser um aprendizado não só para as torcidas do Estado de São Paulo, mas como do Brasil todo. Essas coisas têm que mudar. As punições não estão sendo sérias. Não estão sendo severas. Muitas pessoas vão ao estádio para assistir, mas muitas também vão para arrumar briga. Se tiver que mudar com essa medida, que mudem, porque senão eu tenho certeza que vai continuar assim e quem vai sofrer é o outro lado.
Sobre a torcida do Santos, eu não tenho o que falar. Eu amo. Me acolheram muito bem. E o que eu fiz não foi diretamente para a torcida do Santos, que é a Jovem (principal organizada). Foi para dois torcedores, que eu sei quem é, não cito nomes. Mas eu sei quem é já. Não toco mais no assunto. Já foi esclarecido, já pedi desculpas. Muitas pessoas falaram que não era para eu pedir desculpas. Mas foi um modo de trazer o torcedor para a gente. Estávamos perdendo. Foi para trazer a torcida para a gente. Sem a torcida a gente não é nada.

É bom jogar sabendo qual será o eventual adversário, já que Corinthians e Audax se enfrentam neste sábado?
Zeca – Sim. São duas grandes equipes. Corinthians é clássico. Se classificaram em primeiro na classificação geral. Nós em segundo. O Audax é um grande time. Uma revelação. Está jogando um grande futebol. E tenho certeza que vão ser dois grandes jogos (nas finais). Estamos preparados para quem vier, para quem passar, se a gente passar pelo Palmeiras.

Ricardo Oliveira, capitão do Peixe, tem ótimo relacionamento com o lateral esquerdo (Foto: Ivan Storti)
Ricardo Oliveira, capitão do Peixe, tem ótimo relacionamento com o lateral esquerdo (Foto: Ivan Storti)

O Santos pode fazer uma final contra o Corinthians e, por causa de uma diferença pequena de pontos, terá de decidir fora de casa. Isso é um fator para lamentação?
Zeca – Faz diferença jogar o último jogo lá e o primeiro jogo aqui. É totalmente diferente decidir em casa. Contra o Palmeiras, na Copa do Brasil, foi assim. Jogamos o primeiro jogo em casa. Ganhamos, mas era para ter sido mais (acabou 1 a 0). Acabamos levando para lá (Palestra Itália) e ainda conseguimos fazer um gol para ir para os pênaltis. É mais fácil jogar com a torcida junto. Ainda mais agora que é torcida única. O time (que jogar em casa) vai ser privilegiado.

Entre São Paulo no Morumbi, Palmeiras no Palestra Itália e o Corinthians na Arena, qual é o ambiente mais hostil que você já enfrentou? Onde é mais difícil de jogar?
Zeca – Já joguei no estádio do Palmeiras, já joguei no estádio do São Paulo, no estádio do Corinthians. Os três têm torcidas que influenciam, sim. Mas, dos três, a maior pressão foi dentro do estádio do Corinthians. Foi a pressão maior, em Itaquera. E ainda mais quando se fala de clássico.