Brasileiro do Paraguai - Gazeta Esportiva
Tomás Rosolino
04/28/2017 06:05:52
 

O zagueiro Fabián Balbuena nasceu há mais de 26 anos em Ciudad del Este, no Paraguai, mas já se considera quase tão brasileiro quanto paraguaio. Adaptado ao Corinthians e um dos líderes na campanha até a final deste Campeonato Paulista, que começa no domingo, às 16h (de Brasília), contra a Ponte Preta, no estádio Moisés Lucarelli, ele explicou à Gazeta Esportiva como conseguiu subir tanto de produção com relação à quase descartável temporada 2016 do Alvinegro.

Dono de português fluente, com pequenas escorregadas ao espanhol para explicar o “alento” aos companheiros e os “condimentos” que tornam as decisões mais importantes, o defensor vê no filho Liam, de apenas seis meses de idade, uma ligação já interminável com o Brasil e a cidade de São Paulo. Mesmo caseiro e avesso a grandes caminhadas pela enorme metrópole, ele lembra com orgulho que o mais novo de seus herdeiros (ainda tem Lucas, de cinco) nasceu na cidade que abriga o Corinthians.

“Meu filho nasceu aqui, é brasileiro, e eu me considero também brasileiro. Os costumes aqui não são muito diferentes do Paraguai, então me sinto mais um brasileiro, já sei o que é o clube, o futebol aqui, e vou procurar melhorar ainda mais”, comentou o defensor, creditando sua melhora em campo à reconstrução pela qual passou o Timão após os tempos sombrios que se seguiram à ida de Tite para a Seleção Brasileira.

Fã do método de trabalho do técnico Fábio Carille, Balbuena minimizou ainda a possibilidade de ser capitão no segundo jogo da decisão do torneio, em Itaquera, assegurando que levantará a taça de qualquer jeito. Da sua liderança dentro de campo, porém, ele não abre mão, e explica, sempre com muitos detalhes, como procura ajudar os companheiros e o Timão na briga pelo 28 título paulista da história corintiana.

Gazeta Esportiva – O clube vinha de uma temporada repleta de críticas e, em menos de três meses de jogos, já pode ser campeão. Vocês esperavam uma evolução tão rápida?

Balbuena – É lógico, sempre quando a gente começa uma temporada a gente projeta estar bem lá em cima. É como um antigo treinador meu falava, no tiro ao alvo: “Sempre que você tiver que fazer um tiro longo, coloque sua mira mais para cima, porque ela vai, vai, vai, até cair”. Então a gente sempre coloca o nosso objetivo sempre para cima para poder chegar mais longe. A gente queria chegar longe na Copa do Brasil também, chegar na final, ser campeão, mas agora é chegar na final do Paulista, um dos mais difíceis estaduais do Brasil. Estamos muito confiantes, sempre respeitando o rival, que é a Ponte Preta, chegou com justiça à final também. Então é trabalhar forte para fazer um bom jogo em Campinas, tentando definir e ganhar o título dentro de casa.

Gazeta Esportiva – Você citou a derrota para o Inter, talvez o único grande revés desse elenco do ano. Vocês nem cogitavam cair tão cedo na Copa do Brasil?

Balbuena – A gente sabe que o futebol tem disso, o futebol não te assegura antes de jogar se você vai ganhar ou não. Contra o Inter fomos bem, tivemos alta porcentagem de posse de bola, chances criadas, e, nos pênaltis, é um fator externo, tipo um azar. Não necessariamente quem ganha nos pênaltis foi o melhor. Mas futebol é isso aí.

Gazeta Esportiva – E como vocês conseguiram se recuperar para passar pelo São Paulo?

Balbuena – Nós sabíamos que tínhamos um jogo grande, um clássico pela frente, então essas coisas já ajudam a motivar mais o elenco. Nós conseguimos superar a derrota por causa de toda essa importância, fizemos um bom jogo contra o São Paulo e agora vamos nos preparar bem para pegar a Ponte Preta.

Gazeta Esportiva – Bom, classificados à final, na busca por um título. Você já pensou que pode ser o capitão e levantar a taça (Fagner e Rodriguinho, que também têm sido capitães, estão pendurados com dois amarelos)?

Balbuena – Na verdade, eu não penso muito nisso, penso mais em chegar bem no jogo, entrar bem no jogo e fazer um bom trabalho, como todo o grupo. Seja alguém que vá jogar ou não. Quem entrar em campo vai fazer o seu melhor para o time. Me foco nisso. Ser capitão eu já considero algo em segundo plano, não vai mudar minha forma de encarar o jogo. Se a gente conseguir o título eu vou levantar a taça também, só vai ser depois (risos). O negócio é ganhar o título, por mérito nosso e estamos trabalhando para isso.

Gazeta Esportiva – Mas a função de líder você assumiu desde janeiro.

Balbuena – Eu me considero mais ou menos um jogador positivo neste sentido, sempre tentando falar com o companheiro para falar do jogo. Fora do jogo eu não gosto de falar muitas coisas para os companheiros, mas dentro eu gosto de falar sobre o time, o que pode melhorar. Como zagueiro a gente tem um panorama melhor em campo, em termos de visão, então são coisas que eu me cobro a fazer. Orientando, alentando (incentivando) quando os companheiros erram, tipo, um passe. Sempre gostei de fazer isso, sempre fiz, na verdade. Fui capitão em todos times em que joguei. É uma característica minha que eu mantenho até hoje.

Gazeta Esportiva – Por que o seu desempenho em campo melhorou tanto em relação a 2016?

Balbuena – É um monte de coisa… Acho que o time está melhor. Quando o time está melhor, todo mundo eleva seu rendimento, sua visão de jogo. Ano passado a gente jogava com um sistema diferente, com as mudanças dos treinadores mudava a forma de jogar também, e tudo isso naquela sequência de jogo, jogo e jogo. Era contraproducente.

Gazeta Esportiva – Agora o Carille acabou com essas mudanças?

Balbuena – Hoje a gente começou o ano com o Carille, um trabalho que a gente já conhecia e repetiu coisas que a gente já tinha incorporado. Isso vai ajudando na hora do jogo, faz muita diferença e contagia. Você vê o Gabriel correndo em todas as bolas, o Jô também, faz com que todo mundo se comprometa, não só quem entra em campo, pessoal no banco também, todos mostrando bom astral. Sempre incentivando. Todos esses aspectos são diferentes em relação ao ano passado. O treinador também, são coisas que ajudam a gente a desenvolver esse trabalho.

Gazeta Esportiva – Na vida pessoal você teve o nascimento do seu filho, Liam (em outubro de 2016). Isso também mudou alguma coisa?

Balbuena – Não vejo tanto assim, coisas fora do campo acho que não têm nada a ver com dentro de campo. O fato de ter filho ou não, não interfere no trabalho nos treinos e jogos. Mas é importante o apoio familiar

Gazeta Esportiva – Principalmente quando você não está bem.

Balbuena – É o suporte fundamental. Às vezes a gente faz um jogo ruim, fica triste, fica nervoso, mas aí, em casa, sente o apoio da família, ajuda muito nesse sentido. Meu filho nasceu aqui, é brasileiro, e eu me considero também brasileiro. Os costumes aqui não são muito diferentes do Paraguai, então me sinto mais um brasileiro, já sei o que é o clube, o futebol aqui, e vou procurar melhorar ainda mais.

Gazeta Esportiva – Então você já está totalmente adaptado a São Paulo?

Balbuena – Já estou totalmente adaptado. Não sou um cara que sai muito, fico mais em casa, mas já estou bastante adaptado. Com a correria de jogo, filhos e tudo mais é difícil você sair pela cidade, mas sei já o que é o clube, o futebol brasileiro, me sinto melhor aqui. E tento sempre melhorar, tenho coisas a trabalhar, crescer ainda mais.

Gazeta Esportiva – Crescer para chegar aonde? Na seleção do Paraguai, na Copa?

Balbuena – Não, falo mais pessoalmente mesmo. As técnicas, aspectos defensivos, bola parada ofensiva, aspectos em que eu posso trabalhar para melhorar. Seleção vai depender do trabalho que eu fizer no time, se o time estiver bem vou ter muitas chances de ir para a seleção.

Gazeta Esportiva – A Ponte Preta, além de rival nessa sua primeira decisão aqui, já foi um time no qual você fez gol (Paulista 2016) e contra o qual você foi expulso (Brasileiro 2016). Você guarda lembrança daqueles jogos para essa final?

Balbuena – Lembro da expulsão, foi com quase 20 minutos de jogo… foi minha primeira expulsão aqui, segunda na carreira, coisa de que eu não gosto. Não gosto de levar cartões, ainda mais do jeito que foi, deixar minha equipe com um a menos, senti muito aquele jogo. Mas agora é um momento diferente, o time está bem, é uma final, são condimentos essenciais que me fazem preparar de forma diferente. Não penso no passado e tomara que possa sair de lá de Campinas mais feliz dessa vez.

Gazeta Esportiva – Não guarda lembrança nem do gol?

Balbuena – Ah (risos), esse foi em casa, em Itaquera, momento diferente também. Deixo para o segundo jogo. Mas eu não gosto de pensar no que passou, sempre trato de pensar no que tenho pela frente. E o que tem pela frente é essa final.