O clássico entre Corinthians e Palmeiras, neste sábado, em Itaquera, marcará o reencontro de dois jovens atacantes projetados pelo Criciúma. Com pouco tempo de futebol paulista, o agora corintiano Gustavo e o hoje palmeirense Roger Guedes alimentam uma sadia rivalidade anterior ao protagonismo com que sonham no Derby.
Gustavo, por exemplo, solta o riso quando começa a lembrar o que vivenciou ao lado de Roger nos tempos de Criciúma. “Tínhamos uma relação muito boa. Fizemos dupla de ataque várias vezes na base. Ele só não me dava passe para gol. Era muito fominha”, brincou o centroavante do Corinthians, em conversa com a Gazeta Esportiva. “Torço muito por ele. Que seja muito feliz”, acrescentou.
Roger poderia até não dar assistências para Gustavo, mas gostava de fazer o companheiro de alvo para os seus chutes durante os treinamentos do Criciúma. “Ele tinha o costume de ficar chutando a bola nas pessoas. Uma vez, treinando no ginásio de grama sintética, ele me acertou”, contou o corintiano.
Gustavo não deixou por menos. Esperou o amigo se distrair, devolveu a bolada e fugiu. “Ele começou a correr atrás de mim, e o chão estava meio molhado. Fui fazer a curva para ir ao ônibus e levei um tombo. Nisso, o treinador olhou para nós e disse: ‘Desse jeito, não vamos ganhar de ninguém mesmo’. A partir desse dia, geral começou a zoar por causa dessa frase”, gargalhou.
Roger espera ter novos motivos para zoar o antigo companheiro depois do reencontro deste sábado, em Itaquera. “O Gustavo é um dos amigos que fiz no Criciúma. Vai ser legal enfrentá-lo. Jogar em time grande é algo com que sempre sonhamos, desde a base. Será marcante para os dois e para as nossas famílias. Espero que eu saia vencedor”, comentou o palmeirense, também sorrindo, em entrevista para a Gazeta Esportiva.
Quando fala sobre o clássico, ao contrário, Gustavo fica sério. Não é à toa. Com três jogos pelo Corinthians e ainda sem ter marcado gol, embora seja elogiado com frequência por Cristóvão Borges, o centroavante tem consciência de que o Derby deste fim de semana se tornou crucial. A sua equipe, cobrada pela irregularidade no Campeonato Brasileiro, verá o líder Palmeiras se distanciar ainda mais na tabela de classificação e poderá até perder o técnico no caso de um tropeço em casa.
“Sei que a vitória é muito importante para nós. Na hora em que o árbitro apitar o início do jogo, a amizade com o Roger vai morrer. Vou defender o meu prato de comida e o da minha família. Ele, o dele. Darei o melhor de mim para que o Corinthians saia com essa vitória. Será difícil, mas o nosso time está focado e, se Deus quiser, dará tudo certo”, confiou Gustavo, que, superada a ansiedade da sua estreia contra o Sport, já se sente tranquilo no Corinthians.
Roger Guedes está ainda mais calmo. No Palmeiras desde abril, o atacante de 19 anos compartilha da alegria do elenco dirigido por Cuca com a boa campanha no Campeonato Brasileiro. E até cogitou fazer uma aposta com Gustavo para o Derby. “Ainda não fizemos. Estamos conversando ao longo da semana, mas ainda não falamos disso. Vou pensar em algo aqui”, avisou.
Gustavo aceitaria o desafio do amigo. “Vamos armar alguma coisa. Ligarei para ele nesses dias”, prometeu, otimista para desencantar como corintiano justamente diante do Palmeiras. “O elenco, a comissão técnica e a diretoria me receberam muito bem. Eles estão me passando confiança para fazer o que mais gosto, que é jogar futebol”, declarou o atleta de 22 anos.
Quando não estiver jogando futebol, Gustavo poderá ter a companhia de um rival para desbravar a cidade de São Paulo. Roger Guedes espera contar com a parceria do centroavante fora de campo. “Ainda conheço pouco de São Paulo. Estou há poucos meses aqui e sou mais caseiro. O Gustavo é de Registro (SP) e deve saber bem mais coisas do que eu. Ele tem que me mostrar lugares legais para eu conhecer. Vamos combinar algo em um futuro próximo”, planejou o gaúcho de Ibirubá.
O problema é que Gustavo pensou em outro destino para o amigo. “Vou levá-lo para a minha cidade natal, Registro”, disse. “Já passamos por lá com o time sub-20 uma vez. No final do ano, pretendo fazer um jogo beneficente na cidade e ter a presença do Roger Guedes”, programou.
Seja em Registro ou em qualquer outro local à exceção de Itaquera e do Palestra Itália, a amizade fortalecida em Criciúma à base de boladas deverá perdurar. Até porque a origem dos dois atacantes que almejam o sucesso em clubes rivais do futebol paulista é a mesma.
“Devo muito ao Criciúma. Foi lá que despontei como jogador e cresci como homem. É um clube que me deu e ensinou muita coisa. Serei eternamente grato”, afirmou o palmeirense Roger Guedes. “O Criciúma foi muito importante na vinha. Cheguei aonde cheguei graças a esse clube, mas também não me esqueço de CATS Taborão da Serra, em que fiz os meus primeiros gols como profissional e uma excelente Copa São Paulo, Resende-RJ, Tubarão-SC e Nacional-POR. No Criciúma, aprendi muitas coisas. Agradeço a todos do Tigre, do porteiro ao presidente”, emendou o corintiano Gustavo.