Vocês vão ver como é… - Gazeta Esportiva
Marcos Guedes*
São Paulo (SP)
03/02/2016 05:00:27
 

Garrincha cumpria com alguma ansiedade seu programa de treinamentos, mas a comissão técnica do Corinthians fazia questão de esperar o momento certo de promover a estreia. Em 28 de fevereiro de 1966, Oswaldo Brandão assegurou que seria mantida, contra o Vasco, pelo Torneio Rio-São Paulo, a formação do jogo anterior, um amistoso em Belo Horizonte. No dia seguinte, pressionado pela diretoria alvinegra, anunciou a mudança de planos.

“Mané deixou o gramado antes do fim do treino”, relatou A Gazeta Esportiva de 2 de março, exato meio século atrás. “Quando o ensaio terminou, o técnico Brandão conversou com a reportagem, em pleno caminho para o vestiário, dando a ‘bomba’:
– Garrincha estreia contra o Vasco amanhã (hoje).
– Sério mesmo, Brandão?
– Claro, sério.
– Como viu o treino?
– Bem. A verdade é que ele precisa jogar.
– Mané jogará os 90 minutos?
– Não sei, mas começará a partida.
– E Dino Sani joga?
– Joga, também. Pode anunciar: Mané vai estrear.
Brandão finalizou:
– Mané precisa jogar. Entrou em forma física rapidamente e vai ganhando o peso certo, mas tem que estar em ação para poder readquirir cancha e ganhar forma física.”

Corintianos voltaram frustrados para casa exatamente 50 anos atrás (reprodução/A Gazeta Esportiva)
Corintianos voltaram frustrados para casa exatamente 50 anos atrás (reprodução/A Gazeta Esportiva)

A tal bomba foi estampada em uma capa histórica do jornal com uma paródia do “Frevo do Bi”, imortalizado na voz de Jackson do Pandeiro. Didi e Pelé saíram da rima. “Vocês vão ver como é: Ditão, Nair e Mané” era a manchete, com o apelido do camisa 7 em letras garrafais, abaixo dos nomes dos outros reforços que fizeram o Corinthians passar a ser chamado de Timão.

Naquele dia – e na maior parte dos dez anos seguintes –, a equipe alvinegra não foi um timão. Ao fim do primeiro tempo, o placar do Pacaembu já apontava boa vantagem para o Vasco, gols de Maranhão e Célio, que marcaria novamente. O estreante chegou a colocar uma bola entre as pernas do marcador Oldair, mas, “fora do seu melhor estado de jogo”, perdeu a maioria das disputas.

“E todas as esperanças se foram, com o Vasco esplendidamente estruturado, bem dirigido, conseguindo triunfo excepcional, embora atacando muito menos. Na realidade, a estreia de Garrincha, mesmo com a derrota, foi um grande acontecimento do futebol. Os vascaínos, encerrada a peleja, foram levar seu abraço a Mané Garrincha, enquanto a torcida corintiana, triste, deixava o Pacaembu, amargurada com os 3 a 0”, relatou A Gazeta Esportiva.

O velho craque não conseguiu causar em Oldair o desespero que geralmente lhe infligia em seus melhores momentos no Botafogo. Após quase seis meses sem jogar, no entanto, ao menos desfrutou a presença em campo e se impressionou com o tratamento que lhe reservou a Fiel. “Vi que a torcida estava comigo. Senti uma das maiores emoções da minha vida ao ser festejado tão carinhosamente pela torcida.”

*Colaborou Helder Júnior

O craque colocou a bola entre as pernas de Oldair na estreia pelo Corinthians (reprodução/A Gazeta Esportiva)
O craque colocou a bola entre as pernas de Oldair na estreia pelo Corinthians (reprodução/A Gazeta Esportiva)


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