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Homenageado, Marílson combate tristeza em primeira SS como ex-atleta

Homenageado, Marílson combate tristeza em primeira SS como ex-atleta

Gazeta Esportiva

Por Helder Júnior

30/12/2016 às 19:37 • Atualizado: 30/05/2017 às 12:59

São Paulo, SP

Marílson Gomes dos Santos recebeu homenagem das mãos de Erick Castelhero (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)
Marílson Gomes dos Santos recebeu homenagem das mãos de Erick Castelhero (foto: Sergio Barzaghi/Gazeta Press)


Marílson Gomes dos Santos chamou a atenção no voo em que embarcou com destino a São Paulo, nesta sexta-feira, véspera da 92ª Corrida Internacional de São Silvestre. O tricampeão da mais tradicional prova de rua do Brasil distribuiu autógrafos, posou para fotografias e ouviu incontáveis mensagens de incentivo para acabar com a hegemonia africana nas ruas da capital paulista.

“Aí, nesses casos, tenho que explicar que não estou mais competindo. As pessoas ainda não desassociaram a minha imagem da de um atleta de alto rendimento”, comentou Marílson, que venceu a São Silvestre em 2003, 2005 e 2010 e ainda tem os títulos da Maratona de Nova Iorque de 2006 e 2008 no currículo.

Por esses e outros feitos, Marílson foi homenageado ao chegar a São Paulo para presenciar mais uma São Silvestre, agora no posto comentarista televisivo. O ex-atleta se emocionou ao receber de Erick Castelhero, editor executivo da Gazeta Esportiva e membro do comitê organizador da prova, uma placa que celebra a sua história no atletismo.

O mimo e a idolatria do público paulistano servem de consolo para quem ainda não se acostumou com a vida de ex-atleta. “Parar é um momento muito difícil. Antes, via atletas de todas as modalidades chorando com isso, tristes, e falava que não era possível que fosse assim, que não aconteceria comigo. Mas bate uma tristeza mesmo, até uma depressão. Comecei a correr com 12 anos (hoje, tem 39). Foi o que fiz na minha vida inteira. Ainda estou tentando me adaptar”, admitiu.

A decisão de se aposentar teria sido tomada já em 2012, após o quinto lugar nas Olimpíadas de Londres, porém acabou adiada em função da vontade de competir nos Jogos do Rio de Janeiro. Correndo em seu País, contudo, Marílson não foi além de uma decepcionante 59ª posição na última prova da carreira.



“Eu estava me sentindo bem na época, tendo ganhado do Giovani dos Santos na Meia Maratona de São Paulo e tudo. Só que não foi o meu dia. Sempre tive dificuldades em correr em climas úmidos, e foi exatamente isso o que encontrei no Rio. Fiquei dez dias treinando lá, para me adaptar, e só encontrei sol. No dia da prova, chuva. É frustrante. Mas são coisas que não tem jeito, que você não controla”, aceitou.

O que Marílson Gomes dos Santos já deixou de controlar depois das Olimpíadas do Rio é a sua alimentação. “Xi... Depois de 27 anos regrados, sem poder comer isso e aquilo, as coisas foram por água abaixo”, sorriu o atleta aposentado, que aparenta ter a mesma forma dos tempos de glórias. “Mas já engordei 2kg. A Juliana, minha mulher, é quem pega no meu pé, querendo que eu mantenha o corpo em dia. Até por uma questão de saúde, né?”, completou.

Juliana Paula Gomes dos Santos, a esposa de Marílson, é meio-fundista, medalhista de ouro nos 1.500m dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, em 2007, e dos 5.000m de Toronto, em 2015. Como ainda está em atividade, aos 33 anos, ela força Marílson a acompanhá-la em alguns treinamentos – de vez em quando, o marido, vascaíno, também se arrisca em peladas de futebol. “Só que isso não é nada comparado a antes. Depois que parei, fomos viajar um pouco, passear, e fiquei um tempo sem treinar. Queria me recuperar das minhas lesões, das dores musculares de mais de 20 anos de atletismo”, contou.




As dores agora só estão na cabeça. Novamente emocionado ao recordar as nove São Silvestres que disputou – e as viradas de ano que passou longe da família por causa da prova –, Marílson Gomes dos Santos continuou a experimentar sensações diferentes neste 30 de dezembro. Ele seguiu com a Gazeta Esportiva para o hotel onde muitos dos competidores de elite da corrida estão concentrados com a intenção de apoiar os amigos – especialmente Giovani dos Santos, a atual esperança brasileira contra os sempre favoritos africanos.

“O Giovani bateu na trave algumas vezes. É uma história que lembra a minha. Assim como eu, ele também é muito tranquilo, o que é fundamental em uma prova tão psicológica como a São Silvestre”, analisou Marílson. “Mas será duro assisti-lo. Os meus batimentos cardíacos aceleram só de ver uma São Silvestre. Vem um sentimento de querer correr. Na minha mente, volta tudo aquilo que vivenciei. É impossível não ter grandes recordações”, acrescentou.

A partir da 92ª São Silvestre, contudo, Marílson Gomes dos Santos terá que se acostumar com as funções de torcedor e comentarista. Para seguir ligado ao atletismo, o tricampeão da prova paulistana passará a trabalhar também nas categorias de base do clube Clube de Atletismo BM&FBOVESPA em 2017, tentando descobrir novos talentos Brasil afora. “Não sei se o futuro do atletismo está nas minhas mãos, mas quero ajudar nesse sentido. Temos uma lacuna muito grande nas provas de fundo”, afirmou.

Miguel, o filho de Marílson e Juliana, deverá correr a São Silvestrinha em 2017 (foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)
Miguel, o filho de Marílson e Juliana, deverá correr a São Silvestrinha em 2017 (foto: Fernando Dantas/Gazeta Press)


A primeira grande revelação de Marílson para o atletismo nacional poderá estar dentro de casa. Miguel, o filho do ex-atleta com Juliana dos Santos, já orgulha os pais por seu biótipo propício para as corridas e pela desenvoltura para praticar esportes. Em 2017, o garoto que completará seis anos deverá estrear na São Silvestrinha, a versão infantil da São Silvestre.

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