Valorizando a cultura regional, Santa Cruz chama atenção nas redes - Gazeta Esportiva
Valorizando a cultura regional, Santa Cruz chama atenção nas redes

Valorizando a cultura regional, Santa Cruz chama atenção nas redes

Gazeta Esportiva

Por Andressa Oliveira*

01/10/2016 às 10:00

São Paulo, SP




Nem só de disputas de bola, passes e gols sobrevive o futebol. Vivendo uma situação complexa na tabela do Campeonato Brasileiro, beirando o retorno à Série B, o Santa Cruz demonstra diariamente que a responsabilidade sociocultural de um clube esportivo vai além das quatro linhas do gramado. Um dos representantes nordestinos no torneio nacional, a equipe exalta sua origem, das classes baixas do Recife, utilizando a arte como ferramenta de comunicação.

Da união entre a paixão pela região Nordeste e a arte local, além da importância de se manter marketing e comunicação bem estruturados dentro de um clube, o Santa inovou. Conhecido na capital de Pernambuco como o “time do povo”, por possuir torcedores de camadas mais populares entre os habitantes da cidade, a agremiação passou a utilizar xilogravuras e elementos da literatura de cordel como peças gráficas em suas redes sociais.

Historicamente, o gênero literário originou-se em Portugal. Porém, aqui no Brasil, adquiriu grande projeção no Nordeste, com o uso das xilogravuras para estampar as poesias, já que tinha baixo custo de produção. Desta forma, os textos poéticos eram pendurados em cordões e barbantes nas feiras livres da região.

“Começamos a fazer este trabalho de fato no Campeonato Pernambucano de 2016, e prosseguimos durante a Copa do Nordeste. Apesar de o torneio ser disputado apenas por times nordestinos, percebemos que nenhum deles tinha uma arte visual relacionada às manifestações artísticas populares de nossa região. Assim, passamos a investir nisso”, explicou Inácio França, diretor de comunicação do Santa Cruz.

A comunicação visual do clube chama a atenção logo de cara dentro das redes sociais. Ao acessar o Twitter ou o Facebook do Santinha, uma ilustração do Estádio do Arruda, casa da equipe tricolor, na estética da xilogravura, estampa ambas as capas. Durante a navegação, é possível encontrar diversas imagens com o mesmo estilo, publicadas no tempo real das partidas ou em vendas de ingressos.

“O pontapé inicial nas redes sociais foi o desenvolvimento de uma arte com os cartões distribuídos no jogo. A ideia começou a fazer sucesso, então passamos a ampliar para cobrirmos diversos momentos das partidas”, continuou França.

A veia artística do Santa: Kelen Linck

A mente criativa por trás de todas as artes do Santa pertence à Kelen Linck. Designer, ilustradora e artista plástica, a pernambucana desenvolveu todas as peças gráficas da equipe para este projeto de comunicação visual que valoriza a cultura regional nordestina, além de produzir o design da atual terceira camisa do Tricolor.

“Comecei a trabalhar no Santa Cruz em fevereiro deste ano. Naquele momento já havia um designer no clube e era mais ou menos definida a linha de comunicação que deveríamos seguir. Não foi realizada uma pesquisa específica para desenvolver esse projeto. Solicitaram-me uma arte para divulgação de venda de ingressos, sugerindo um diálogo bem informal, com direito a “oxe” e “visse”, com a intenção de falar para o torcedor sem grandes rodeios. E o resultado foi nítido, uma identificação com a linguagem clara e direta transmitida pela ilustração”, afirmou Kelen.

A designer explicou que em todas as vertentes de seu trabalho, elementos e grafismos que remetem à arte armorial (movimento fundado por Ariano Suassuna durante o século XX, buscando uma valorização da cultura nordestina) são perceptíveis. Desta forma, a mesma não precisou passar por pesquisas específicas para desenvolver o projeto dentro da equipe coral.

“Embora não tenha sido a primeira, a ilustração que marca a implementação dessa estética foi a desenvolvida para o Campeonato Pernambucano. Ela estampou a camisa que os atletas vestiram após o título e se desdobrou em inúmeras aplicações para redes sociais. Assim nasceu essa identidade própria do Santa Cruz, muito mais próxima do torcedor”, completou a artista.

Crescimento e engajamento da torcida coral nas redes

Além de toda a composição artística do projeto estabelecido pelo clube recifense, o marketing também se beneficiou. De acordo com França, é muito importante aproveitar a fortíssima influência da cultura local, principalmente para uma equipe como o Santa Cruz. “O cordel vem das camadas mais baixas, nosso clube é o time do povo. Isso é a essência do Santa”, exaltou.

A repercussão da identidade visual do clube multiplicou as interações com os torcedores. Em suas principais redes sociais, a equipe possui quase 94 mil seguidores no Twitter, além de 556 mil no Facebook, resultando em cerca de 100% de aumento no engajamento.

“O alcance tem sido imenso e ainda me surpreende ver um desenho meu com tantas curtidas e compartilhamentos. É uma honra compartilhar a minha versão, uma releitura do repertório imagético do Nordeste. E acho lindo um time que dá valor às origens, que se orgulha de ser do povo. Por isso acho que a coisa deu certo: uma linguagem popular para um time popular”, finalizou Kelen.

*especial para a Gazeta Esportiva

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